segunda-feira, 10 de março de 2008

A grande omissão

“O maior desafio que a Igreja enfrenta hoje é a formação de discípulos autênticos de Cristo”. O autor dessa frase e também do livro, Dallas Willard, é alguém pessoalmente envolvido com essa questão central para a fé cristã. Dallas Willard é professor da Escola de Filosofia da Universidade do Sul da Califórnia, autor de publicações referenciadas no tema da espiritualidade (A Conspiração Divina, Ouvindo Deus, Renovação do Coração, etc.) e de obras filosóficas nas áreas de epistemologia e filosofia da mente e da lógica.

O livro (Editora Mundo Cristão, 214 páginas) é uma coletânea de artigos publicados em revistas e jornais do meio cristão norte-americano, tendo como eixo principal a temática do discipulado. Segundo Willard, o termo discípulo aparecer mais de 250 vezes no Novo Testamento, enquanto “cristão” ocorre apenas três vezes. O Novo Testamento, portanto, é um livro escrito por discípulos, que fala sobre discípulos e para discípulos de Jesus Cristo.

Dallas Willard é enfático quando afirma que, ao longo da história, a Igreja permitiu duas omissões à Grande Comissão proferida por Jesus (Mt 28.20): “omitimos a tarefa de fazer discípulos e levar as pessoas a serem aprendizes de Cristo e omitimos, por necessidade, o passo de acompanhar nossos convertidos num treinamento que os levará, cada vez mais, a fazer o que Jesus ordenou.”

Abaixo, alguns pensamentos recorrentes ao longo do vinte capítulos do livro, dividido em quatro partes: Aprendizes de Jesus, A Formação Espiritual e o Desenvolvimento do Caráter, O Discipulado da Alma e da Mente e Livros sobre a Vida Espiritual - Visões e Práticas:

- O preço da falta de discipulado é a ausência de paz duradoura, de uma vida inteiramente imbuída de amor, da fé que considera tudo à luz do controle absoluto de Deus visando ao bem e do poder de fazer o que é certo e resistir às forças do mal;
- Salvação sem obediência produz “cristão vampiro”, caracterizado como aquele que gostaria de receber um pouco de sangue de Jesus, mas não quer ser seu aprendiz nem ter seu caráter;
- Em nossa cultura em geral e também entre os cristãos, Jesus Cristo é automaticamente desassociado do brilhantismo ou da capacidade intelectual;
- Como discípulos (literalmente alunos) de Jesus o objetivo dos cristãos é aprender ser iguais a Ele, através de um processo que envolve (i) a aceitação constante dos problemas diários, (ii) interação com o Espírito de Deus em cada um e (iii) a prática das disciplinas espirituais;
- O esforço devidamente direcionado, determinado e contínuo é a chave para as chaves do reino e para o poder e o descanso no ministério e na vida que essas chaves abrem para os cristãos;
- As disciplinas espirituais são atividades que estão ao alcance do cristão e que os permitem fazer aquilo que não são capazes de fazer por um esforço direto;
- A formação espiritual se refere ao processo de moldar o espírito humano e lhe dar um caráter definido, em conformidade com o Espírito de Cristo;
- Graça é o oposto de mérito e não de esforço; na verdade, nada inspira e intensifica mais o esforço que a experiência da graça; mas não é possível tornar-se semelhante a Cristo sem ações enérgicas e deliberadas da parte do cristão;
- A visão de Deus guarda a humildade; ver Deus como ele é de fato permite que vejamos a nós mesmos como somos realmente;
- O espírito humano é, em essência, o que se chama hoje de “vontade”, a capacidade de fazer escolhas e tomar decisões, e aquilo que na Bíblia e na tradição é chamado de “coração”;
- A atitude prioritária e mais fundamental que podemos tomar é manter Deus diante de nossa mente;
- O indivíduo pode desejar e, com freqüência, deseja ser bom e fazer o que é certo, mas está preparado, está programado para fazer o mal; é o que ele está pronto para fazer sem pensar;
- A tradição e o pensamento evangélico tornam acessível para a humanidade um Salvador verdadeiro que pode estar presente no mundo de hoje para dar vida plena e abundante;
- A motivação vem da visão, e a visão deve vir da pregação do evangelho do reino como um convite absolutamente abrangente para viver sob o governo de Deus;
- Observar com atenção a maneira de Jesus usar o raciocínio lógico pode fortalecer a confiança do cristão nEle como mestre dos centros do intelecto e da criatividade, incentivando a aceitá-lo como mestre de todas as áreas das quais o cristão participa na vida intelectual.

Nenhum comentário: